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Como será o futuro do Ubuntu sem o Unity?

Pois é pessoal, essa foi sem sombra de dúvidas as notícias mais "bombástica", por assim dizer, do ano no mundo Linux. Nós falamos e noticiamos o fim do Unity 8 e do Ubuntu Phone nesta semana e muitas pessoas se interessaram pelo assunto, foram mais de 60 mil acessos apenas neste artigo, mas algo que eu percebi na maior parte dos comentários foi uma dualidade entre pessoas que já não gostavam muito do Unity e/ou preferiam o Gnome e pessoas que gostavam do Unity e ficaram chateadas com a notícia.


Uma grande surpresa!

Apesar dos mais pessimistas acharem que o Ubuntu Phone nunca teve realmente chance, para mim, a "causa mortis" do projeto foi ver o que a Samsung fez com o novo Galaxy S8 (não que tenha sido isso mesmo, mas o conceito que o envolve), além da necessidade de focar onde dá lucro. Sei que nem todos se encaixam aqui, mas se você já tentou empreender algum negócio sabe que esse tipo decisão difícil é sumariamente fundamental.




A Samsung trouxe para o Android a dita "interface convergente", uma marca forte, com Android, o sistema operacional mais utilizado do mundo, trouxe para o mercado exatamente o conceito que o Ubuntu Phone estava brigando para trazer, claro, com algumas diferenças, pois o Ubuntu com Unity 8 tinha a intenção de rodar aplicativos convencionais de Desktop nos Smartphones também, mas quando se olha em sentido prático, realmente o Android sai na frente, não há nem sequer competição.
Ainda assim, o anúncio de Mark Shuttleworth, criador da Canonical, pegou todos de surpresa, até então não havia sequer um indício de que o projeto fosse efetivamente acabar, ao menos, não de forma tão drástica.
Particularmente, como eu já tinha falado neste vídeo, a versão 18.04 LTS, que deve ser lançada daqui a um ano aproximadamente, faria o sucesso ou o fracasso do Ubuntu e do Unity 8, parece que Mark resolveu não apostar.
Desde que foi anunciado, o Unity 8 chamou a nossa atenção, o conceito de convergência, a nova aparência, novas funcionalidades, tudo isso despertou um interesse extremo no sistema.
Com o tempo e promessas adiadas, depois de pouco mais de 3 anos de espera, tivemos os primeiros aparelhos com Ubuntu, mas a versão destkop nunca ficou realmente pronta. Ao mesmo tempo que ansiedade pela nova interface aumentava no Desktop e os esforços eram concentrados nela, o Unity 7, versão utilizada no Destkop até então, acabou deixando de receber grandes upgrades como o Ubuntu teve outrora, deixou de incrementar funcionalidades, algo que é quase fatal para um sistema que busca mais e mais usuários, especialmente domésticos.
Paradoxalmente, o Ubuntu neste meio tempo ganhou mais popularidade do que nunca, tornou-se a distro Linux mais utilizada do mundo depois do Android, virou sinônimo de Linux na internet  e para a indústria, abarcou cerca de 40 milhões de usuários ao redor do mundo apenas na versão Desktop, ainda assim, as versões para servidor, cloud e IoT do Ubuntu fizeram ainda mais sucesso, Dustin Kirkland, gerente de produto da Canonical, chegou a afirmar que juntando todas as plataformas em que o Ubuntu estava presente, mas de 1 bilhão de pessoas eram usuários do sistema, de forma direta ou indireta e o Unity era facilmente reconhecido em fotos mundo à fora.
Realmente, fomos pegos de surpresa.

O Unity realmente acabou?

Neste momento eu gostaria de me atentar para um detalhe que pode ser divisivo e acabar com o Ubuntu da forma que o conhecemos, a distro simples e para usuários comuns no Desktop, então você precisa prestar atenção.
Tirando a Canonical, as outras duas principais empresas que mantém distros Linux de forma direta são a SUSE e a Red Hat, e o que ambas tem em comum? O foco empresarial em servidores e suporte. E o que mais elas tem em comum? Não tem um foco no usuário doméstico. Sacou?
Mark comentou em seu anúncio que o Ubuntu 18.04 LTS voltaria a usar Gnome e que o Unity 8 e o Ubuntu para Smartphones, assim como a convergência e o servidor gráfico Mir, tinham acabado, ainda que ele continuasse acreditando que esse é o futuro, a Canonical provavelmente não estaria nele. Aqui é que entram os detalhes das lacunas deixadas por ele.
Voltar a "usar o Gnome" não significa que o Ubuntu 18.04 LTS vá usar o Gnome Shell necessariamente, tecnicamente isso são coisas diferentes, ou ainda, não quer dizer que o Ubuntu vá ter o mesmo Gnome que o Fedora tem, por exemplo.  
Seria possível a Canonical criar uma interface em cima do Gnome Shell que tenha a mesma funcionalidade do Unity? Até porque ele disse que o Unity 8 tinha acabado, mas não falou nada sobre o 7 ou o que iria acontecer com ele.
Ontem eu estava brincando com o Ubuntu Gnome 17.04 Beta, que ainda receberá um vídeo para o canal, e com algumas extensões e temas eu fiz um "Unity" do Gnome, a usabilidade fica bem parecida até, dá uma olhada na aparência:
 
 

Não estou dizendo que é isso que vai acontecer, mas seria coerente pensar desta forma para não impactar os usuários de Unity demais e manter a usabilidade do sistema.
Por outro lado, se a Canonical estiver se tornando uma nova Red Hat ou SUSE eu tenho más notícias pros usuários comuns, me incluindo aqui.

Isso significaria que o Ubuntu para Desktops receberia um Gnome Shell "puro", assim como é o Ubuntu Gnome hoje em dia, e a preocupação com os usuários de Desktop diminuiria, de certa forma, desperdiçando o bom nome no mercado consumidor comum que o Ubuntu tem atualmente, coisa que até agora nenhuma outra distro conseguiu.
O Ubuntu para Desktop será o mesmo Ubuntu para Desktop que nós conhecemos? Ou será algo mais parecido com o Fedora que é um "campo de testes" comunitário do Red Hat Enterprise Linux?
Isso realmente só o tempo nos dirá, confesso que torço para que seja a primeira opção, caso contrário, não vejo mais motivos para usar o Ubuntu como sistema de Desktop indicando-o para qualquer tipo de usuário. Ele vai continuar sendo simples, fácil e tudo mais, como é agora, mas ferramentas facilitadoras e a preocupação com a experiência do usuário de Desktop mais básico não seriam mais preocupação, fazendo do Linux Mint, elementary OS, Deepin e do Manjaro (dependendo da evolução) opções mais interessantes para "arrastadores de mouse".

O que sobrará depois do Unity?

Existem muitas coisas importantes que irão se acabar com o final do Unity, isto é, do Unity 7 especialmente. Podemos lamentar pelo Unity 8, Mir e pelos Ubuntu Phones, mas ainda assim é algo que nós nunca realmente tivemos, então a sensação de perda é muito menor, não se pode dizer o mesmo da versão 7.
Como tanto o Unity 7, como o Unity 8, são projetos abertos, não seria de desacreditar uma continuação por uma comunidade interessada, como aparentemente já está acontecendo com o Unity 8, mas sinceramente, certos recursos do Unity 7 não estão presentes em nenhuma outra distro de forma nativa atualmente.
O HUD por exemplo, a ferramenta que permite que você pesquise dentro dos menus das aplicações apenas pressionando a tecla "Alt" é algo que eu não vi em nenhum lugar, o aproveitamento de espaço que o Unity tem é incomparável, afinal, não é somente "esconder as barras" e pronto, com o Unity além de ter todo o campo de visão você ainda tem todas as ferramentas do sistema a sua disposição, as barras das janelas que se integram com a barra superior e os menus globais são coisas muito boas também. Concentrar as ações no lado esquerdo da tela faz com que você precise mexer menos o mouse também.
Tirando isso, que são recursos que podem se implementados em outras interfaces, talvez no próprio Ubuntu mesmo com Gnome, o que se perde mesmo caso do Unity 7 e seu conceito de usabilidade e aparência deixem de existir completamente, é a grande marca que ele criou.
Veja bem, a maior parte das distros utiliza um ambiente gráfico que outras distros também utilizam, o Gnome do Fedora não é muito diferente do Ubuntu Gnome, do Gnome do SUSE ou do Manjaro, visualmente falando, e isso vale para qualquer outra interface, mas o Unity, além de ter um visual peculiar, remetia diretamente ao Ubuntu, do mesmo jeito que quando você vê uma barra em cima com uma dock embaixo você lembra do Mac, ou um painel inferior com um "menu iniciar" você lembra do Windows (ou do KDE), quando você via um sistema com barra na esquerda você associava ao Ubuntu, abandonar isso é ruim pra marca, ruim pro marketing, ruim pro Ubuntu. 
escrito por Dionatan Simioni
http://www.diolinux.com.br