Uma grande surpresa!
A Samsung trouxe para o Android a dita "interface convergente", uma marca forte, com Android, o sistema operacional mais utilizado do mundo,
trouxe para o mercado exatamente o conceito que o Ubuntu Phone estava
brigando para trazer, claro, com algumas diferenças, pois o Ubuntu com
Unity 8 tinha a intenção de rodar aplicativos convencionais de Desktop
nos Smartphones também, mas quando se olha em sentido prático, realmente
o Android sai na frente, não há nem sequer competição.
Ainda assim, o anúncio de Mark Shuttleworth, criador da Canonical, pegou
todos de surpresa, até então não havia sequer um indício de que o
projeto fosse efetivamente acabar, ao menos, não de forma tão drástica.
Particularmente, como eu já tinha falado neste vídeo, a versão 18.04
LTS, que deve ser lançada daqui a um ano aproximadamente, faria o
sucesso ou o fracasso do Ubuntu e do Unity 8, parece que Mark resolveu
não apostar.
Desde que foi anunciado, o Unity 8 chamou a nossa atenção, o conceito de
convergência, a nova aparência, novas funcionalidades, tudo isso
despertou um interesse extremo no sistema.
Com o tempo e promessas adiadas, depois de pouco mais de 3 anos de
espera, tivemos os primeiros aparelhos com Ubuntu, mas a versão destkop
nunca ficou realmente pronta. Ao mesmo tempo que ansiedade pela nova
interface aumentava no Desktop e os esforços eram concentrados nela, o
Unity 7, versão utilizada no Destkop até então, acabou deixando de
receber grandes upgrades como o Ubuntu teve outrora, deixou de
incrementar funcionalidades, algo que é quase fatal para um sistema que
busca mais e mais usuários, especialmente domésticos.
Paradoxalmente, o Ubuntu neste meio tempo ganhou mais popularidade do
que nunca, tornou-se a distro Linux mais utilizada do mundo depois do
Android, virou sinônimo de Linux na internet e para a indústria, abarcou cerca de 40 milhões de usuários ao redor do mundo
apenas na versão Desktop, ainda assim, as versões para servidor, cloud e
IoT do Ubuntu fizeram ainda mais sucesso, Dustin Kirkland, gerente de
produto da Canonical, chegou a afirmar que juntando todas as plataformas
em que o Ubuntu estava presente, mas de 1 bilhão de pessoas eram usuários do sistema, de forma direta ou indireta e o Unity era facilmente reconhecido em fotos mundo à fora.
Realmente, fomos pegos de surpresa.
O Unity realmente acabou?
Neste momento eu gostaria de me atentar para um detalhe que pode ser divisivo e acabar com o Ubuntu da forma que o conhecemos, a distro simples e para usuários comuns no Desktop, então você precisa prestar atenção.
Tirando a Canonical, as outras duas principais empresas que mantém
distros Linux de forma direta são a SUSE e a Red Hat, e o que ambas tem
em comum? O foco empresarial em servidores e suporte. E o que mais elas tem em comum? Não tem um foco no usuário doméstico. Sacou?
Mark comentou em seu anúncio que o Ubuntu 18.04 LTS voltaria a usar
Gnome e que o Unity 8 e o Ubuntu para Smartphones, assim como a
convergência e o servidor gráfico Mir, tinham acabado, ainda que ele
continuasse acreditando que esse é o futuro, a Canonical provavelmente
não estaria nele. Aqui é que entram os detalhes das lacunas deixadas por
ele.
Voltar a "usar o Gnome" não significa que o Ubuntu 18.04 LTS vá usar o
Gnome Shell necessariamente, tecnicamente isso são coisas diferentes, ou
ainda, não quer dizer que o Ubuntu vá ter o mesmo Gnome que o Fedora
tem, por exemplo.
Seria possível a Canonical criar uma interface em cima do Gnome Shell
que tenha a mesma funcionalidade do Unity? Até porque ele disse que o
Unity 8 tinha acabado, mas não falou nada sobre o 7 ou o que iria
acontecer com ele.
Ontem eu estava brincando com o Ubuntu Gnome 17.04 Beta, que ainda
receberá um vídeo para o canal, e com algumas extensões e temas eu fiz
um "Unity" do Gnome, a usabilidade fica bem parecida até, dá uma olhada
na aparência:
Não estou dizendo que é isso que vai acontecer, mas seria coerente
pensar desta forma para não impactar os usuários de Unity demais e
manter a usabilidade do sistema.
Por outro lado, se a Canonical estiver se tornando uma nova Red Hat ou
SUSE eu tenho más notícias pros usuários comuns, me incluindo aqui.
Isso significaria que o Ubuntu para Desktops receberia um Gnome Shell "puro", assim como é o Ubuntu Gnome hoje em dia, e a preocupação com os usuários de Desktop diminuiria, de certa forma, desperdiçando o bom nome no mercado consumidor comum que o Ubuntu tem atualmente, coisa que até agora nenhuma outra distro conseguiu.
Isso significaria que o Ubuntu para Desktops receberia um Gnome Shell "puro", assim como é o Ubuntu Gnome hoje em dia, e a preocupação com os usuários de Desktop diminuiria, de certa forma, desperdiçando o bom nome no mercado consumidor comum que o Ubuntu tem atualmente, coisa que até agora nenhuma outra distro conseguiu.
O Ubuntu para Desktop será o mesmo Ubuntu para Desktop que nós
conhecemos? Ou será algo mais parecido com o Fedora que é um "campo de
testes" comunitário do Red Hat Enterprise Linux?
Isso realmente só o tempo nos dirá, confesso que torço para que seja a
primeira opção, caso contrário, não vejo mais motivos para usar o Ubuntu
como sistema de Desktop indicando-o para qualquer tipo de usuário. Ele
vai continuar sendo simples, fácil e tudo mais, como é agora, mas
ferramentas facilitadoras e a preocupação com a experiência do usuário
de Desktop mais básico não seriam mais preocupação, fazendo do Linux
Mint, elementary OS, Deepin e do Manjaro (dependendo da evolução) opções
mais interessantes para "arrastadores de mouse".
O que sobrará depois do Unity?
Existem muitas coisas importantes que irão se acabar com o final do
Unity, isto é, do Unity 7 especialmente. Podemos lamentar pelo Unity 8,
Mir e pelos Ubuntu Phones, mas ainda assim é algo que nós nunca
realmente tivemos, então a sensação de perda é muito menor, não se pode
dizer o mesmo da versão 7.
Como tanto o Unity 7, como o Unity 8, são projetos abertos, não seria de
desacreditar uma continuação por uma comunidade interessada, como
aparentemente já está acontecendo com o Unity 8, mas sinceramente, certos recursos do Unity 7 não estão presentes em nenhuma outra distro de forma nativa atualmente.
O HUD por exemplo, a ferramenta que permite que você pesquise dentro dos
menus das aplicações apenas pressionando a tecla "Alt" é algo que eu
não vi em nenhum lugar, o aproveitamento de espaço que o Unity tem é
incomparável, afinal, não é somente "esconder as barras" e pronto, com o
Unity além de ter todo o campo de visão você ainda tem todas as
ferramentas do sistema a sua disposição, as barras das janelas que se
integram com a barra superior e os menus globais são coisas muito boas
também. Concentrar as ações no lado esquerdo da tela faz com que você
precise mexer menos o mouse também.
Tirando isso, que são recursos que podem se implementados em outras
interfaces, talvez no próprio Ubuntu mesmo com Gnome, o que se perde
mesmo caso do Unity 7 e seu conceito de usabilidade e aparência deixem
de existir completamente, é a grande marca que ele criou.
Veja bem, a maior parte das distros utiliza um ambiente gráfico que
outras distros também utilizam, o Gnome do Fedora não é muito diferente
do Ubuntu Gnome, do Gnome do SUSE ou do Manjaro, visualmente falando, e
isso vale para qualquer outra interface, mas o Unity, além de ter um
visual peculiar, remetia diretamente ao Ubuntu, do mesmo jeito que
quando você vê uma barra em cima com uma dock embaixo você lembra do
Mac, ou um painel inferior com um "menu iniciar" você lembra do Windows
(ou do KDE), quando você via um sistema com barra na esquerda você
associava ao Ubuntu, abandonar isso é ruim pra marca, ruim pro
marketing, ruim pro Ubuntu.
http://www.diolinux.com.br